Tag Archives: Bixiga 70

Dois mil e treze

Retrospectando vintetreze, coisas vistas, lidos e escritos, sons ouvidos, lugares idos, momentos vividos, ideias realizadas, top talvez treze, mas perdi a conta.


*Dirigir o espetáculo Amado, dedicado ao brilhante único disco, de 1972, spiritual samba e jazz profundo, de Amado Maita (1948-2005), criado ao lado de sua filha Luisa Maita e com grandes participações de Ed Motta, BNegão, Tiganá Santana, Bruno Morais e Curumin, com a direção musical e incríveis arranjos de Marcos Paiva, ao lado de seu mágico sexteto MP6, em fevereiro no Sesc Pinheiros.


*Mergulhar na obra de Baden e Vinicius (e além) e na amizade com Décio 7 e Guilherme Held para a criação do gran show Afrosampa, em novembro no Sesc Vila Mariana, dirigido por eles, com ajuda minha na pesquisa e participação de Criolo, Juçara Marçal, Marcelo Pretto e Kika, além de músicos especiais como Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Mauricio Badé, Cuca Ferreira, Romulo Nardes, Douglas Antunes e Daniel Gralha.

HowMusicWorks
*O livro How Music Works, de David Byrne, obsessão ali por volta de setembro/outubro e aprendizado intenso a cada página.


*O filme “Era Uma Vez Eu, Verônica“, de Marcelo Gomes, além de “Eu Ouviria as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios“, de Beto Brant e Renato Ciasca, e “Pina 3D“, de Win Wenders, todos assistidos no Cinesesc em abril em duas tardes agradabilíssimas dentro da mostra de melhores filmes do ano (e “Verônica” repetido dentro da mesma mostra em dezembro). E “Antes da Meia-Noite“, de Richard Linklater, e “Django Livre“, de Quentin Tarantino.

Dissonancias
*Conhecer em julho a incrível cidade modernista de Cataguases na Zona da Mata Mineira e participar do ótimo ciclo de debates Fórum Dissonâncias, ao lado de Pena Schmidt, Leonardo Lichote, Alex Antunes, Marcus Preto e Romulo Fróes.


*Frequentar a Mooca com o grande parceiro (dez anos trabalhando juntos!) Eugênio Vieira, visitar Jorge e os sebos Jovem Guarda e Presentes do Passado (rua da Mooca números 2631 e 3401) e com vários amigos grandes DJs realizar a série Garimpo, além das tardes com Seu Lino.

Veneno-Boteco-23-11-2013
*Em ano em que tirei o pé do acelerador de discotecagens, as poucas mas boas festas ao lado dos chapas de Veneno, Peba Tropikal e Mauricio Fleury, como no Boteco Pratododia, clube mais legal descoberto no ano.

Galileu260-MusicaLivre-mar13
*Conversar com Emicida, Tulipa, Thiago Pethit, Lucas Santtana, Bixiga 70, Curumin, para uma quase história oral do estado da música online, gratuita, distribuída, vendida, prensada hoje, a convite do editor e brother Alexandre Matias, e com direção de arte nota 10, reportagem de capa na revista Galileu em março – e que me fez depois cair na prova no vestibular da UNESP.

*Conversar com Roy Ayers, Nile Rodgers, Ron Carter, Naná Vasconcelos, Charles Bradley, Questlove, Leo Nocentelli e outras figuras fantásticas para reportagens na Folha Ilustrada ao longo do ano.

18CIF
*Fazer curadoria para o Cultura Inglesa Festival de artistas brasileiros em shows especiais de inclinação inglesa, escolhendo três atrações para uma ser a abertura do festival em maio de 2014.


*Os shows que vi de Metá Metá com Tony Allen na Serralheria em junho, Tulipa no Sesc Pompeia em setembro, as versões em vinil do disco de Tulipa e de Lucas Santtana, o relançamento de Carlos, Erasmo em LP, mais vários álbuns legais como o segundo do Bixiga 70 (também em vinil), o primeiro da Luz Marina, Feras Míticas do Garotas Suecas, a caixa Mestres Navegantes realizada por Betão Aguiar e o compacto Bruno Morais Contra a Vontade do Chão, entre tantos discos legais lançados este ano que ouvi e tantos ainda por ouvir.

*Entrar para a era dos telefones inteligentes, Android, Instagram e a coisa toda.

DonatoB70Insta
*Encontrar mais meu ídolo e amigo João Donato no Rio e em São Paulo e fazer planos juntos para 2014.

Música livre

A primeira coisa que o mercado faz quando encontra um modelo bem sucedido é tentar repeti-lo. Se a função da indústria é formatar e embalar, sua essência primordial é a regra da máxima produção. Mas, se gravação e distribuição se provam cada vez mais independentes e descentralizadas, qual o papel da indústria na vida de quem produz? O que acontece com o mercado quando a música está livre?

Foram muitas as perguntas, retóricas e literais, quando o grande parceiro Alexandre Matias ligou pensando em uma reportagem de capa para a revista Galileu, da qual é diretor de redação, e com uma questão: o Brasil está na vanguarda da música online? Saí conversando sobre o assunto por aí e desenhei breve panorama dos modos da música online brasileira, em reportagem publicada na revista há poucos meses. Abaixo, o texto em versão pré-edit quase final, acompanhado das ótimas fotos da Camila Fontana para a Galileu.

OS OPERÁRIOS DA MÚSICA LIVRE

Você pode ouvir o disco online, baixar em MP3, comprar o LP ou ir ver ao vivo. “As pessoas estão ouvindo e assistindo música como nunca” diz Cuca Ferreira, da big band paulista Bixiga 70. Desde que lançaram seu primeiro álbum, há pouco mais de um ano, a elogiada banda de afrobeat de dez integrantes tem feito shows frequentes, chegou a concorrer (por melhor capa) no Grammy Latino e o disco, Bixiga 70, gravado com os esforços de seus próprios membros, foi lançado em CD, vinil e online. “Nunca se viu tanta produção tão boa, e nunca foi tão viável fazer o trabalho chegar ao público”, nota ele. “Todas as barreiras de entrada caíram, e hoje em dia artistas de todos os tamanhos tem os mesmos canais para fazer o trabalho chegar ao público. Não consigo imaginar um cenário mais favorável à produção artística.” Você pode ver ao vivo, comprar o disco ou simplesmente sair clicando para ouvir.

Eles não são uma exceção. Hoje, com naturalidade, toda uma geração contemporânea brasileira disponibiliza seus discos online ao mesmo tempo em que vai aprendendo como valorizar sua produção, custear sua obra, divulgar seu trabalho, descobrindo e gerando ofertas e demandas. Artistas como Tulipa Ruiz, Curumin, Karina Buhr, Lucas Santtana, Thiago Pethit, Anelis Assumpção, Gui Amabis, BNegão, Metá Metá, Criolo, Andreia Dias, Marcelo Jeneci e o Bixiga 70, para citar um punhado com centro gravitacional em São Paulo, entre incontáveis outros pelo país, colocam seus álbuns mais recentes para baixar ou ouvir gratuitamente em seus próprios sites, em plataformas como SoundCloud e Bandcamp ou através de blogs especializados.

Desde final do século passado, toda a engrenagem industrial do mercado musical vem passando por intensas transformações, como o surgimento e disseminação de novas tecnologias, em sua maior parte gratuitas, como os arquivos MP3s, as redes de compartilhamento destes arquivos, mecanismos torrents, sites de armazenamento de conteúdo, ferramentas de publicação online – tudo à disposição de quem quisesse dividir com os outros suas canções e discos favoritos. A era pós-industrial atingiu toda a indústria do entretenimento, mas o braço da música foi quem mais sofreu, especialmente as grandes gravadoras multinacionais, as chamadas majors, que sofreram um declínio em todas as etapas de seu antigo negócio, ao mesmo tempo em que rapidamente se aperfeiçoavam ferramentas baratas e caseiras de produção que diminuíam a distância entre amadores e profissionais.

A era digital é referida como pós-industrial porque seu modelo confronta de frente com aquele que vinha sendo desenvolvido até o final do século 20. O processo industrial é baseado na repetição. Se sua função é formatar e embalar, ela só faz isso pois trabalha sua essência primordial da regra da máxima produção – o que, para produtos em geral, funciona muito bem (ou pelo menos até agora, antes da popularização das impressoras 3D). Conteudo, no terreno da arte, a venda do produto (por exemplo, o disco) está associada ao conteúdo (a canção) e para atingir este pico de produção, busca-se o mínimo denominador comum do interesse do público – seja pela fórmula, pela criatividade, ou, comumente, algum equilíbrio entre os dois. Pesquisas e estudos ainda não conseguiram decifrar a inconstância idiossincrática que torna possível a qualquer ser humano a criar ou apreciar arte, daí a opção pela solução mais simples.

Tulipa Ruiz, que lançou há pouco seu segundo disco, Tudo Tanto, encontrou interesse considerável do público por CDs desde seu primeiro álbum, Efêmera – ambos lançados de forma independente e gravados em parcerias; o primeiro com a gravadora-estúdio YB e o segundo através de edital da Natura.

“Os modelos antigos não se aplicam mais”, explica a cantora, falando de sua própria experiência. “Antigamente, quando dependíamos de distribuidoras, o artista ganhava menos mas vendia muito mais. Então pensei, “dentro disso eu não tenho nada a perder, já estou perdendo com essa relação, vou dar um jeito de distribuir sozinha”. Comecei a levar eu mesma nas lojas, fiz o email discodatulipa@gmail.com pra vender direto pra quem queria e prensei 20 mil “Efêmeras” na unha. Aos poucos eu fui entendendo que precisava me estruturar e que poderia fazer isso sozinha se eu tivesse uma equipe. Hoje em dia isso tem acontecido e a gente está feliz da vida: é tudo entre eu e e loja, eu e a pessoa que está comprando o disco, sem intermediário. Alguns anos atrás isso seria impossível, a internet aproximou tudo.”

“Cada um tem descoberto suas fórmulas e possibilidades, pois a coisa toda tende a ser cada vez menos homogênea”, opina Lucas Santtana, que realizou seus discos recentes às próprias custas – o último, O Deus Que Devasta Mas Cura, com apoio do Estado da Bahia. “Claro que ainda existe uma distância em relação aos artistas chamados mainstream”, continua. “Mas você muda o tamanho da escala e já está tudo igual em termos de business. A pergunta é se essa geração faz uma música para esse grande mercado ou se ela está formando um novo público. Outra pergunta é se o grande mercado na verdade não passa de uma imposição de uma máfia que dita o que vai ser popular.”

O rapper paulistano Emicida, intenso adepto do faça-você-mesmo em praticamente toda a escala de produção, já alcançou altos números com seus lançamentos, com estimativa de mais de 500 mil downloads e 70 mil cópias de suas duas mixtapes e dois EPs, conseguidos em shows, pelo seu selo e loja virtual Laboratório Fantasma, pelo iTunes, e amplamente encontrados por blogs e fontes extraoficiais. “Minha vitória não será a falência de qualquer multinacional que gerencie música”, decreta ele. “Minha vitória será os artistas aprenderem que podem trilhar seu caminho e essas corporações passarem a ser vistas como opções, não como obrigações.”

“A grande verdade é que hoje a indústria musical flutua no limbo – principalmente os artistas, que são o lado mais fraco da corda” avalia. “Estamos longe de uma estabilização enquanto seres humanos, a indústria musical é apenas um detalhe, não estamos capacitados para lidar com 100% dos recursos que a tecnologia oferece em boa parte dos segmentos onde ela se mostra disponível. A música é mais um desses segmentos e ambas continuaram a evoluir, indiferentes à nossa capacidade ou possibilidade de vender ou comprar algo e obter lucro com isso.”

Então, ser independente é uma atitude política ou consequência do estado das coisas? “Tanto faz”, diz Cuca, do Bixiga 70. “O próprio conceito de “independente” caiu por terra, na medida que a opção “dependente” não existe mais. O que eu vejo é novamente a música como manifestação de ponta inaugurando um novo modelo. Foi assim com a digitalização, a música foi a primeira arte a virar digital. Agora novamente, é a primeira arte a se assentar a partir de relações fragmentadas e individualizadas com o público. E usando isso a favor do modelo mais antigo de manifestação artística, que é a apresentação ao vivo. Se isso é político, não sei.”

No encarte do mais novo CD de Thiago Pethit, Estrela Decadente, ele escreve: “Este disco é 100% independente: independente de patrocínio, independente de edital, independente de gravadora, independente de selo e independente do gosto de quem ouve.” Conjunção rara de liberdade. Quantos discos poderiam ter esse selo?

“Ser independente hoje serve mais como slogan do que como um fato”, comenta Pethit. “Até anos atrás, era uma definição para quem não estava assinado com uma gravadora. Para quem não tinha o suporte financeiro das majors, a assessoria, o marketing e a construção de imagem, os jabás, os estúdios que elas ofereciam e por aí vai. Mas as gravadoras não funcionam mais assim. Agora, é mais importante estar vinculado a um bom empresário do que a um selo que muitas vezes só vai cuidar da tua distribuição. Um bom produtor pode te ajudar na inscrição para um edital e conseguir o dinheiro que antes vinha da gravadora. Uma agência especializada pode ter bons contatos e te colocar para cantar numa premiação de música, ou na festa de uma revista de moda, e cumprir a função do marketing e imagem do artista. Mas grande parte ainda diz: somos independentes. Então, fica a minha pergunta: independente de quê?”

Dez anos atrás, a Associação Brasileira dos Produtores de Discos certificava disco de ouro para artistas que vendiam 100 mil discos, disco de platina para aqueles que chegavam a 250 mil e diamante para os grandes artistas que chegavam a um milhão. Hoje, tudo menos da metade, discos chegam a ouro, platina e diamante vendendo, respectivamente, 40, 80 e 300 mil discos. Se em 1999 o mercado brasileiro chegava a vender 87 milhões de CDs, em 2003 já eram 52 milhões e, nas últimas medições da ABPD, em 2010 e 2011 chegamos a 18 milhões por ano. O mercado de música gravada encolheu?

Ou esterá migrando de vez para os meios digitais, levando produtores, consumidores, plataformas e rentabilidade? Em ascensão ano-a-ano, as receitas digitais em 2011 já chegavam a 16% do mercado no país, enquanto CDs encolhiam para representar 53%. Se em pouco tempo podemos ver o formato CD equivaler a menos da metade da maneira como consumimos música, falta de medições precisas e unificadas sobre downloads no Brasil nos impedem de enxergar se podemos estar vivendo a vanguarda da música online.

“Download gratuito tem que ser estratégico, num país continental, cuja logística que envolve o CD está sem sombra de dúvidas falida”, calcula Lucas Santtana. “O suporte CD ficou obsoleto justamente porque compete com o download digital. Já o vinil, que nunca competiu, esse sim, virou mercado de nicho. O disco ainda é um produto relevante, o suporte CD é que não.”

“Minha prima de 13 anos nunca comprou CD e acho que nunca vai comprar música no iTunes”, observa Tulipa. “Ela só ouve música em streaming, no YouTube, em baixíssima resolução, e não paga por isso. Mas ela paga pra ir no show. Eu, como uma pessoa que atuo no mercado da música, não posso ignorar esse perfil. Como vou conversar com essa menina? Vejo o download como um começo de relação. Meu jeito de estar presente é: Quer baixar de graça? Está lá. Quer ouvir em streaming? Ok. Quer comprar o vinil? Vou fazer vinil. O perfil hoje é híbrido. E tem gente para consumir em todos esses lugares.”

Segundo recente estudo da empresa norteamericana de medição Nielsen SoundScan, a principal plataforma de audição de música hoje é o YouTube, com 64% dos 3000 adolescentes americanos entrevistados listando o site como primeira opção para ouvir um som. Enquanto isso, o vídeo mais vídeo na história pelo site, “Gangnam Style”, do coreano Psy (mais de um bilhão de views), gerou oito milhões de dólares de rendimentos pelo YouTube, segundo o Google. Os caminhos, fontes, maneiras e plataformas podem ter mudado radicalmente, mas ninguém pode dizer que no mercado da música não tem circulado dinheiro.

“Me parece que estamos em crise e em plena mudança ao mesmo tempo” opina Thiago Pethit, que soma mais de um milhão de views de seus vídeos no YouTube. “Houve uma grande mudança de paradigmas com o surgimento da internet, que levantou uma série de perguntas. Muitas delas ficaram sem uma resposta concreta, como por exemplo: com a queda das vendas, de que forma os discos vão passar a ser pagos? Dúvidas que acabaram atropeladas por outras inúmeras mudanças menos significativas, porém mais e mais frequentes. A cada novo gadget que é inventado, sistema de streaming ou de ideia estrutural, seja de formato do som ou de capitalização, o mercado se reinventa em cima de novas possibilidades. Existem novas soluções, mas elas estão longe de servirem como um padrão ou uma fórmula para serem seguidas. Cada vez mais, cada caso é um caso, cada artista cria a sua fórmula, cada mercado e cada nicho, precisam de um tipo de apoio específico e cada um vai enfrentar um tipo de dificuldade diferente do outro, dependendo do seu contexto.”

“Quando lancei meu primeiro disco, em 2003, não tinha muito MP3”, lembra Curumin. “A galera baixava disco a muito custo, no Limewire, coisas assim. Quando lancei o segundo, em 2008, já rolou uma revolução. Até então você só tinha aqueles disquinhos ali que você baixava, e não dava pra ser muito porque era difícil, e os discos que você comprava, mas que tinha um limite porque era caro. De repente as bibliotecas de música aumentaram em 20, 30, 40 vezes. Todo o esquema da música mudou. Ninguém mais conseguia segurar um disco numa gravadora, ela já não tinha mais exclusividade. E agora já mudou tudo, já virou outra coisa. Já não é mp3, já é o streaming, são outros veículos, é pelo YouTube, tem que ter vídeo, tem que ter imagem. A coisa parece que ainda vai se transformar, vai ficar mudando durante um bom tempo. Talvez nem estabilize. Se você pensar que a tecnologia se renova a cada cinco anos…”

Com quatro bilhões de horas assistidas mensalmente no YouTube em 2012, talvez a própria questão de MP3s e downloads já esteja ultrapassada. Em breve, com banda larga mais rápida e maiores espaços de armazenamento barateados e popularizados, talvez a diferença entre dar play e ouvir em streaming ou clicar em “baixar” seja irrelevante. E agora? Ninguém sabe, é claro. A música está livre e cada um faz com ela como acha melhor, cada produtor de arte chama pra si e bola seu jeito. Se antes havia apenas um caminho possível, ou poucos, hoje nascem tantas possibilidades quanto surgem artistas.

“Vejo que quem se organiza, estuda e trabalha consegue solidificar algumas coisas”, opina Emicida. “Artista precisa estudar se quiser viver da arte que produz sem os grilhões da indústria oficial. Estudar e trabalhar realmente por ela, além de pensar na criação artística somente. Caso discorde disso, o que não falta é chefe pra te fazer de escravo neste mundo.”

PARA OUVIR

tuliparuiz.com
bixiga70.com
laboratoriofantasma.com
soundcloud.com/curumin-oficial
soundcloud.com/diginoisrecords
thiagopethit.com
karinabuhr.com.br
marcelojeneci.com.br
anelis.com.br
guiamabis.com
criolo.net
kikodinucci.com.br
bnegaoseletores.com.br

Krishnanda 2012

Antes mesmo de saber que o álbum estava sendo relançado em vinil pela Polysom, estava conversando com meu chapa Ricardo Alexandre, diretor de redação da revista Trip, sobre um perfil de Pedro Santos e seu iluminado disco Krishnanda, pérola de 1968. Foi um timing feliz, depois de alguns meses de pesquisas, entrevistas e redação, perceber que a publicação da revista seria no mesmo mês em que os LPs, com som remasterizado e prensagem zero quilômetro, chegariam às lojas. Não precisamos mais desse papo de disco esquecido: Pedro Santos, Sorongo, anda mais vivo do que nunca. Os sons, em qualquer lugar que se vendam vinis novos e bons. Parte da história, em humilde contribuição minha, este mês nas bancas, pelo site da Trip e a íntegra pré-edição logo abaixo.

MÚSICA E ESPIRITUALIDADE NA ESCALA DA VIDA

De onde viemos e o que ainda somos na escala da vida? A capa do LP Krishnanda, lançado em 1968 pelo percussionista e compositor Pedro Santos, tenta escalonar. Em uma colagem circular, espécie de mapa evolutivo, aparecem minérios, amebas, flores aquáticas, moluscos, peixes, anfíbios, larvas, insetos, aves e feras, ao redor de um grande gorila e um pequeno homo ancestral. Nas pontas, as mãos de Deus e do primeiro homem, detalhe recortado do afresco A Criação de Adão, de Michelangelo, da Capela Sistina, talvez simbolizando toda a vida que surge entre aquele quase toque de mãos.

Não é uma capa comum, como nada no disco em si e em seu autor era comum. Pedro Santos, também conhecido pelo nome do principal ritmo que inventou, Sorongo, era especial. Além de músico inventivo e grande ritmista que tocou com Hermeto Pascoal, Orquestra Tabajara, Maria Bethânia, Baden Powell, Clara Nunes, Jards Macalé e tantos outros, Sorongo era altamente espiritual. Presente neste mundo entre 1919 e 1993, expressava grandes pensamentos através de músicas, letras, escritos, desenhos, conversas. Comumente lembrado como “filósofo” por muitos que com ele conviveram, Pedro Santos criou obras muito além de qualquer escala evolutiva da música brasileira.

“SURGIR É SURGIR, MULTIPLICAR É FLORIR”
Hoje, quase 20 anos depois de sua partida e mais de 40 da gravação do álbum Krishnanda, seu pensamento musical e espiritual encontra ressonância renovada. O produtor Kassin, que lembra ter descoberto o disco em meados dos anos 90, comenta: “Pedro é um simbolo do experimentalismo brasileiro, um revolucionário. Acho quase inacreditável que ele tenha conseguido realizar esse disco.” A cantora Mariana Aydar, que costumava abrir seus shows interpretando solo “Um só”, de Pedro Santos, conta que fica sempre emocionada com a música de Sorongo. “É de uma profundidade ímpar, me leva a lugares muito nobres onde poucas músicas conseguem chegar”, explica. “Uma mistura de plenitude e medo.”

Pupillo, baterista da Nação Zumbi e do grupo Almaz, recorda ouvir Krishnanda pela primeira vez em um ensaio. “Foi um divisor de águas pra mim, pois Pedro Santos mostra nesse disco que um grande ritimista, além de pesquisar novos timbres e texturas, poderia criar melodias maravilhosas e mexer com palavras que complementam os temas com enorme maestria. A partir daí, me senti na obrigação de divulgar o trabalho desse grande artista para qualquer amigo músico que eu encontrasse, inclusive sugerindo acrescentar ‘Água viva’ ao repertório do show do projeto Seu Jorge e Almaz, que faria duas grandes turnês pelos Estados unidos e Europa.”

Em seu álbum de estreia, de 2011, a big band paulista de grooves afrobrasileiros Bixiga 70 regravou “Desengano da vista” de Sorongo. “O Pedro Santos tinha a capacidade de compor um tipo de canção que tem a ver com a poesia oriental, ideograma”, enxerga Mauricio Fleury, pianista do conjunto. “Ele escrevia músicas que parecem mandalas, que quando você olha de todos os lados é como se estivesse pra cima. Como fractais ou aquela famosa representação do yin-yang, uma geometria perfeita.” O cantor Ed Motta e o DJ Nuts, conhecidos garimpeiros de pérolas raras brasileiras, são outras figuras conhecidas por louvar o disco. Cereja do bolo, a fábrica de vinis e selo Polysom está relançando o disco em vinil de 180 gramas com remasterização a partir das fitas master originais. A gravadora SonyBMG deve também lançar o álbum em CD.

“VOCÊ É VOCÊ PRA ONDE FOR”
Quando Getúlio Vargas instaurou o decreto 10.358 em 31 de agosto de 1942, estava declarado o estado de guerra em todo o território nacional: nos tornávamos Aliados combatendo o Eixo. Entre julho de 1944 e fevereiro de 1945, foram enviados à Itália pela Força Expedicionária Brasileira mais de 25 mil soldados – e Pedro Santos estava entre os convocados. Pandeirista de adolescência, durante a Guerra continuava ligado à música, integrando a banda dos pracinhas tocando percussão.

Finda a guerra (que lhe deixou “emocionalmente abalado”, contou sua viúva), de volta ao Rio de Janeiro, não pôde fazer diferente: entendeu definitivamente que a música era o seu caminho. Trabalhando como porteiro de rádio, passou a conhecer importantes figuras e a elas mostrar seu toque e suas composições. Pela década de 50, viu gravados seus primeiros temas, os baiões “Marrocos”, “Recordando o Líbano” e “Dança da naja” (já mostrando influências de música africana e oriental) por acordeonistas como Mário Mascarenhas, Orlando Silveira e Manoel Macedo, além da voz de Michel Daud, então conhecido como “o cantor das 1001 noites”. Além disso, em pouco tempo estava tocando com músicos como Jacob do Bandolim, Altamiro Carrilho e a principal formação instrumental de seu tempo, a Orquestra Tabajara de Severino Araújo.

Em 1960, pela gravadora Continental, o compacto duplo Sorongo Is Sensational, de Severino Araújo e Sua Orquestra, explicava que no Dicionário do Folclore Brasileiro de Luiz da Câmara Cascudo, encontramos “Sorongo” como “dança africana que os escravos trouxeram para o Brasil” e contava: “Pedro Santos, ritmista da Orquestra Tabajara, há seis anos idealizou um novo ritmo. Passou tempo burilando o referido ritmo enquanto procurava uma designação para ele. Depois de muita pesquisa, encontrou a definição e utilizou o nome “Sorongo”, porque, na verdade, o seu ritmo é uma variação do samba, que por sua vez é oriundo do batuque.”

Elza Soares, Angela Maria, Baden Powell e o regional do lendário chorão Canhoto foram alguns intérpretes da nova levada. “O ritmo nasce como nasce uma flor, como nasce um verso. Pedro dos Santos é o poeta que sonha, um sonho colorido de flores, e traz no peito um ritmo que é seu”, dizia a contracapa do LP Batucada, de Paulinho e sua Bateria, de 1961. Ao mesmo tempo, Pedro tornava-se cada vez mais mestre reconhecido das diferentes possibilidades de expressão percussiva. No selo do 78 rotações “Tanganyka”, de Altamiro Carrilho, podia-se ler um crédito à parte, “Efeitos Especiais: Pedro Santos”.

“QUEM DISSER QUE NÃO TEM VAIDADE, VAIDADE VEM”
Não apenas ele era mestre sonoplasta, perfeito reprodutor de sons dos animais da selva, como também dedicava-se a criar seus próprios instrumentos, como o bambussom e o sorongaio – que juntava em uma estrutura tambores com diferentes timbres, ideal para a execução de seu ritmo inventado. Bambus, chocalhos de água, berimbaus-de-boca, colheres, tubos de desodorantes, côcos e apitos plásticos também faziam parte de sua sonoridade, assim como caixas de fósforo, ganzás, tamborins, cuícas, tumbadoras, tambores, agogôs, pandeiros, bongôs e maracas.

“Ele usava os instrumentos de um modo muito único”, recorda o violonista Sebastião Tapajós, que em 1972 gravou dois álbuns em dupla ao lado de Sorongo. “Ele era empírico, não tinha uma educação formal mas sabia tudo de contar as entradas que tinha que fazer, os compassos etc. Ele botava o tamborim entre as pernas, pegava o reco-reco e botava no dedão, tirava sons que você não imagina. O pessoal ficava alucinado.”

Com enorme senso melódico e criatividade sem fim, sua abordagem no acompanhamento rítmico trazia uma concepção totalmente diferente de tudo que havia. “O Sorongo tinha muitos recursos como percussionista”, diz o contrabaixista e flautista Bebeto Castilho, do Tamba Trio, sobre os encontros musicais com Pedro. “Se entrasse um instrumento, ele ia para outros cantos e deixava livre aquele espaço. Quando entrava naquele espaço, é porque o outro estava fazendo outra coisa, cabia ele entrar ali.”

Bebeto continua lembrando: “Pedro Sorongo, que ser humano. Ele parecia que brilhava, com um jeito calmo de falar. Ele sempre chegava e apaziguava. Quando as coisas começavam a esquentar, ele calava a boca e aí de repente dizia uma frase estratégica, pequena mas muito sábia. Se tivesse alguém nervoso, esse alguém iria ficar calmo.” Musicalidade sem limites, filosofias próprias, aura zen, homem de pensamento livre e qualidade únicas. “Quando eu conheci o Pedro ele apareceu já cheio de novidades. De percussão e de tudo: da vida mesmo”, conta Sebastião Tapajós. “O Pedro sempre colocou isso na frente de tudo, o lado espiritual dele. Diferente, sabe. Ele foi uma pessoa diferente. Ele era um cidadão totalmente diferente. Simples demais. Maravilhoso, o Pedro. Foi muito gratificante conhecê-lo.”

“EU SOU DE UMA PORÇÃO QUE NEM PÓ, DE UMA PORÇÃO DE UM SÓ”
Não existem questões maiores na filosofia. Há quanto tempo o homem se pergunta quem sou, de onde venho, para onde vou? Se em nossa vida na Terra começamos como células únicas há 4 bilhões de anos e há meros 200 mil anos andamos de coluna ereta com nosso polegar opositor, o que ainda nos tornaremos, que caminho a vida na terra ainda seguirá? A grande capacidade da vida é a evolução. Em 1968, em entrevista ao jornal Correio da Manhã, Pedro dizia: “O círculo da vida impõe ao homem renovação, começando sempre em cada geração que surge, para melhor ressurgir nas gerações que vêm, obrigando a humanidade a encetar o caminho que sempre foi, mostrando a todos que todos são apenas um.” Na mesma matéria, a existência de Deus era definida “como a gente mesmo, nós é que fazemos Deus de acordo com o que somos ou representamos na vida”.

Para Pedro Santos, a revolução pessoal foi movida pela descoberta da ioga, da macrobiótica, do aprofundamento da filosofia indiana. Largou o emprego de músico fixo na TV, passou a manufaturar ao lado da esposa baquetas e bolsas para instrumentos e, ao longo de duas semanas em 1968, no estúdio da gravadora CBS, Sorongo canalizou seu máximo de musicalidade e espiritualidade em três canais de gravação. A convite do produtor Hélcio Milito (fundador e baterista do Tamba Trio, conjunto batizado com o nome de instrumento de percussão criado por Milito e inspirado por Sorongo), Pedro criava sua obra-prima Krishnanda, cruzando mensagens espiritualmente elevadas com sonoridade totalmente sui generis, original de si própria, incategorizável, momento único na música produzida no Brasil.

Envolvendo as letras existencialistas, a paisagem é de climas amorosos e selvagens, sons misteriosos de um Brasil pré-sintetizadores, infindade de brinquedos percussivos, marimbas, a voz rouca de Pedro acompanhada de coros femininos e ocasionais cordas, pianos, violões, guitarras e arranjos de sopros transcritos de suas ideias pelo maestro Pachequinho, assinando com o pseudônimo Jopa Lins. O tutor de Sorongo na ioga, professor Hermógenes, em recente matéria de Pitzan para a revista Yoga Journal, buscou explicar o título do álbum: “Etimologicamente parece que é ananda, felicidade suprema, gerada por Krishna, que é um avatar, a encarnação divina na Terra do mais puro amor”.

“AZAR OU SORTE DE QUEM MULTIPLICA E SOMA”
“É muito interessante como ele trabalha em colaboração, sempre somando”, observa Mauricio Fleury, do Bixiga 70. “A obra dele não se resume aos discos que ele assina, tem composição dele em vários discos de outros artistas e, às vezes, ele aparece só como instrumentista mesmo. É brilhante isso, um artista que, mesmo com tantas idéias, não estava fechado numa bolha. Pelo contrário, atuava diretamente no cenário musical, por isso sua obra vai vir mais e mais à tona conforme os anos forem passando. Vai sempre aparecer coisa que ele gravou, idéia que ele deu, instrumento que ele criou.”

A redescoberta de um grande artista carrega sempre a simbologia de novos caminhos que se abrem, novas possibilidades como que descongeladas do tempo e oferecidas aos novos contextos. No caso de Pedro Santos, seu Krishnanda e toda sua obra, é mais que uma reavaliação cult. Sorongo pensava e dizia coisas tão pontuais, tão únicas e tão certeiras, que com ele vem o poder de suas ideias e os novos aprendizados por elas oferecidos. Você vai ouvindo, vai ouvindo, e de repente a ideia já está dentro de você e te transforma.

Kika Pra Viagem

Hoje à noite acontece no Sesc Pompeia show de lançamento de Pra Viagem, primeiro álbum da Kika. Coautora de uma música no disco do Pipo Pegoraro e duas no álbum do Bixiga 70, integrante de bandas como Argamassa, Grupo Trilha e As Posers, neste primeiro lançamento com seu nome encontra um registro leve, orgânico, tranquilidade em sons, pop retrô, afrodub, música brasileira, lançado em irresistível LP transparente de dez polegadas, destaque do ano. Produzido por Décio 7 e Victor Rice, o disco tem participações de músicos do Bixiga 70, Antibalas, Rockers Control, além de Anelis Assumpção, Kiko Dinucci, Gui Held, Dustan Gallas, alguns presentes na noite de gala hoje. Conversei com Kika para uma apresentação básica, breves perguntas e comentário faixa-a-faixa do disco, seguindo abaixo.

Quais seus principais trabalhos até o Pra Viagem?

Acho que a primeira coisa bem legal que eu fiz foi cantar numa formação dos Secos e Molhados, uma curta temporada num teatro em 1996. Muito incrível cantar aqueles discos com o compositor das músicas. Outra coisa bonita foi o grupo vocal Trilha, que era um trio feminino que trabalhava com arranjos a três vozes, que a gente escrevia. A banda ARGAMASSA era muito massa também, embora a gente estivesse começando a produzir, em casa, super na raça. Era um núcleo muito legal, com o Cris Scabello, o Décio 7 e o Marcelo Dworecki. Depois disso fiz um trampo com quase a mesma banda, acrescentando o Maurício, o Pipo e o compositor das canções, o Danilo Monteiro. O projeto teve dois nomes: “2min” e “Miudezas e Afins”. E também fiz trilhas pra teatro e cinema. A que mais gosto foi pruma peça infantil, “A Viagem de Ultra-Violeta”.

Quando nasceu a ideia do disco?

Eu sempre tive um pouco de resistência com a idéia de lançar um disco meu, preferia sempre trabalhar em grupo. Mas o que rolou foi que depois da Argamassa, os meninos foram trabalhar com tanta gente, que fiquei trabalhando sozinha por muito tempo, deu pra compor bastante, estudar e descobrir um monte sobre meu gosto, minhas idéias e tudo. E ao mesmo tempo, aquilo que a gente estava construindo em linguagem musical, começou a realmente fazer um efeito, eu comecei a ouvir um som ali, na nossa pesquisa. Os meninos no Traquitana começaram a concretizar sonoramente o que a gente tinha “projetado” um tempo antes. Então percebi que havia um valor naqueles meus arquivos, na minha pesquisa vocal…. e que havia um caminho seguro com esses parceiros de linguagem, e que daria menos medo de cair naquela tempestade no molhado de ser uma cantora brasileira.

Como foi o processo de composição, produção e gravação?

Eu e o Décio escolhemos juntos as músicas que a gente queria produzir, e montamos uma banda pra cada uma. Depois ele editava o mateiral e começavam as sobreposições, de teclado, mpc, vocais, etc. A gente começou tudo aí, no fim de 2010, eu e o Décio. E terminei agora no fim de abril de 2012. O Décio produziu “Manhãzinha”, “Sem saber” e “Pulso” até julho de 2011. Chamei o Victor em setembro de 2011 pra produzir “De passagem”, “Amor bastante”, “Sai da frente” e “Singing along”. “Enxurrada” nós decidimos incluir este ano, e foi o Décio que produziu de novo.

Nas músicas que o Victor produziu, ele pegou as gravações e foi gravando os baixos, escaletas, guitarras, cello, … e também escalou os amigos dele do Brooklyn pra tocar, cada um gravando em seu home studio e mandando as linhas via internet. As vozes eu também gravei com o Victor, com exceção da Sai da Frente, que também é exceção na pré produção. Fiz com o Loco Sosa e a Lu Horta, numa sessão na casa deles no fim de 2010, numa tarde chuvosa de verão. Daquela pré produção tudo valeu, até as vozes que a gente gravou, eu e a Lu. Depois eles sobrepuzeram algumas linhas de beats e barbatuques, e mandaram para as mãos do Victor, nosso mestre.

Acho legal dizer sobre os elementos “improvisação” e “acaso”, que fizeram parte da construção dessa sonoridade. Considero que foi a vantagem de criar as músicas sem estarem ensaiadas por uma banda. Criei os arranjos vocais na hora que cantava a voz guia, e também várias linhas de teclado e metais. Claro que depois eu ia pra casa e escrevia tudo direitinho, mas foram mantidas as idéias que vieram na hora. Com o Kiko Dinucci, com o Dustan, o Gui Held e o Maurício foi bem assim também. Toquei a música no violãozinho pra eles já no estúdio com tudo ligado, e eles foram criando sobre o que acabaram de ouvir pela primeira vez na vida. Os beat box do Giba e do Denis em “Singing Along” também foram total fruto do acaso, os caras estavam no Traquitana por outro motivo, e a gente deu aquela escalada, eles curtiram e ficaram pirando na hora.

Outra coisa muito importante é saber que a mixagem do Victor, mesmo nas músicas que não foram produzidas por ele, é um elemento forte de linguagem. Ele tem os conceitos do Dub muito definidos no jeito de trabalhar, de escolher os efeitos, de manipular ao vivo na mesa durante a mix, de passar tudo pelo rolo e trazer esse eco analógico e jamaicano pra concepção final. Ele trabalhou muito sozinho, e eu chegava lá com uma idéia, ele ligava o mic e eu fazia, e depois ele editava e gravava as idéias dele em cima. Até uma letra eu experimentei lá com ele e ficou. O metalofone e os kazoos, gravei com ele também.

Algumas canções são super novas. “Singing along” eu fiz com o Décio no fim de 2011, e acabou entrando no disco, que já estava quase pronto.

Duas eram da Argamassa, e até já foram gravadas em casa: “De passagem” e “Sem saber“.

Amor Bastante” eu fiz quando a minha filha nasceu. A primeira estrofe é um poema do Leminski.

Manhãzinha” foi uma música que eu fiz sozinha e mostrei pro Décio. Acho que foi ela que deixou a gente mais a fim de fazer esse disco, porque ela era divertida e despretensiosa.

Enxurrada” é uma música do Denis Duarte, e quem conhece o Denis sabe que ele compõe instantaneamente. A gente estava na casa do Lenis, eu, o Denis e o Décio. Os meninos no groovie, o Denis no cavaco, e ele saiu cantando, literalmente, cantando a música inteira na hora. A gente gravou no mesmo dia, minutos depois.

Sai da frente” é do Leandro Bomfim. Ele lançou essa música num disco que se chama A Malta, que ele fez só ele e o Zé Nigro. É um disco lindo.

E “Pulso“, é uma música do Mau e do Renato Gama, que estava no repertório de uma banda chamada Zungo. Eu cantei nessa banda, com Mau, Cris, Décio e Tiago Saraiva, mas antes, um tempo antes, quem cantava nessa banda era a Anelis. Eu conheci essa música na voz dela, por isso que a convidei pra cantar comigo, e todo mundo da banda tocou também.

Panorama #03

Afrobeat é pouco: raízes, influências inspirações, reinvenções, rádio pop, música brasileira, século XXI. Do funk nigeriano à psicodelia paraibana, grooves polirrítmicos, baixos em transe, guitarrinhas cortantes, desenhos percussivos, tracks instrumentais, vocais, conexões, odes, sonhos, origens, zambos, baús, trilhas, Rio, São Paulo, Paraíba, Pernambuco, Mato Grosso, a África é aqui.

DL: http://www.mediafire.com/?yi91jq1eqd8z9pc

+2 – Sol a pino
Criolo – Bogotá
Céu – Rainha
Burro Morto – Kalakuta
Anelis Assumpção – Sonhando
Bixiga 70 – Zambo beat
Pipo Pegoraro – Ouro Bondali
Metá Metá – Oranian
Romulo Fróes – Tua beleza
Mariana Aydar – Galope rasante
André Abujamra – Origem
Vanessa da Mata – Baú
Max de Castro – I remember Fela
Otto – Janaína

Panorama #02

Continuação, novidade, capítulo dois, mix pra nuvem, amostragem de pérolas, sons para Jorge, Janaína, Ilê, de afro pra Xangô a versão eletrocaseira de Marina Lima, passando por canções de Arthur Verocai e Pedro Santos, produção de Beto Villares, versão de Raymond Scott, remix de KL Jay, pré-Metá, ciranda e ethio-jazz: rádio pop, música brasileira, século XXI.

DL: http://www.mediafire.com/?bqkgznazr2jufv9

Douglas Germano – Obá Iná
Kiko Dinucci & Juçara Marçal – São Jorge
Jonathan Silva – Ciranda pra Janaína
Mia Doi Todd – Canto de Iemanjá
Danilo Caymmi – Okê Arô
Bixiga 70 – Desengano da vista
Sambanzo – Etiópia
Céu, KL Jay, Flora Matos e MC Fator – Véu da noite
Itamar Assumpção & Seu Jorge – O tempo todo
SP Underground – Just lovin
Cibelle – Lightworks
Superhuman Happiness + The Cults – Um canto de afoxé para o bloco Ilê Ayê
Tulipa – Memória fora de hora

Occupy Bixiga

Foi grande honra e diversão, realmente muito especial discotecar com os irmãos do Veneno na rua no Dia do Graffiti no Bixiga e participar da inspirada ocupação de uma quadra da 13 de maio, em frente ao número 70 – endereço do estúdio Traquitana, base dos grandes comparsas do Bixiga 70. Grafitagem alto astral, sarau sob o sol, palco montado, irmandade de bairro, só gente aberta, paz e som. Resumo rápido, amostra legal no vídeo acima, dez minutos, os Bixigasetentas mandando sua homenagem a Nilsson Garrido, “Balboa da Silva”, e contando mais, por Gabriel Alexandre, Soul Art.

Panorama #01

Rádio pop, música brasileira, século XXI. Caixinha de música de A a Z, seleção de algumas melhores de alguns ótimos discos, EPs, singles, sites, passado recente, presente pro futuro, uma hora, breve apanhado, panorama de um momento, primeira edição.

DL: http://www.mediafire.com/?3bzhp22m69ww8we

Pipo Pegoraro – Radinho
Karina Zeviani & Tono – Confessional
Gui Amabis & Criolo – Orquídea ruiva
Karol Conká – Melhor que se faz
Seu Jorge (com Miguel Atwood-Ferguson e Money Mark) – Quem não quer sou eu
Ekundayo – Just love
Curumin & Ticklah – Ela
Kika Carvalho & Anelis Assumpção – Pulso
Lucas Santtana – Se pá, ska
Karina Buhr – Cadáver
Bruno Morais & Bixiga 70 – Sorriso dela
Mallu Magalhães – Highly sensitive
The Bottletop Band & Rodrigo Amarante – Mana
Mariana Aydar – Homem da perna de pau
Felipe Cordeiro – Fogo morena
Metá Metá – Obá Iná