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devagar também é pressa de chegar onde interessa

Fui pra Buenos Aires com pouca bagagem, pouca grana e sem expectativas formadas. Além da evocação constante de Cortázar, só levei comigo a vontade de encontrar o LP de 72 do Pedro Santos com Sebastião Tapajós pela Trova e, especialmente, o compacto de mesmo selo e ano, com uma inédita. No fim, entre tantos rolês, destinos, tempos e contratempos, acabou que, além das descobertas casuais, só um dia mesmo teve tempo daquela circulada atrás de lojas e disqueiros. Mas é uma lei universal: se você deseja muito um disco e o mentaliza em todas as caçadas, ele vem para você. (Sorte e experiência em sebos, claro, também ajudam.)

Destino principal, e muito justamente, foi na sensacional Discos Eureka, na Defensa perto da San Juan, que pintou na seção “Brasileños”, plim, o Pedro Santos com Sebastião Tapajós da Trova 72. Se fosse um roteiro não seria melhor, o preço era basicamente o único que eu podia abraçar e o vinil em ótimo estado. Tudo muito bom, tudo muito bem, no caminho de volta, feliz e tranquilo, quebrando a Defensa pelas alturas da Carlos Calvo, evocando o outro céu de Cortázar, uma pasaje, galeria que, como tudo em San Telmo, transbordava antiguidades de toda espécie.

Foi pura bravata quando anunciei, no primeiro kiosco em que vi sete polegadas largados num canto, “vou achar agora o compacto”. Sério. Perguntando casualmente o preço de um outro interessante que apareceu ali, ouvi o velho truque do vendedor de discos sem preço marcado: avaliação baseada no interesse demonstrado pelo potencial comprador. Quando achei, uou, o simple da Trova com o nome “Pedro Santos”, foi manter o sangue frio, juntar com outros aleatórios e perguntar assim, não querendo nada, quanto seriam aqueles, resposta perfeita, pinçá-lo e glória.

Lá sem picape, imagine a expectativa de esperar voltar pra casa para ouvir e conhecer. Para de alguma maneira preservar o momento em que o compacto foi tocado com amor em pelo menos algum tempo desde que foi parar naquela pasaje en San Telmo, lavei minuciosamente, tentei passar bem pelo leve risco no começo da faixa e de prima já registrei o som pra mostrar o rip pros amigos como eu sempre com sede de Pedro Santos.

Tudo é moda. Pedro Santos y Sebastião Tapajós, na mesma leva em que gravaram seu primeiro grande disco em dupla, gravado em Buenos Aires, pelo selo argentino Trova, em 1972, simple, compacto com a faixa “Sorongaio” no lado B e no glorioso lado A a inédita “Todo es moda“, percussão, efeitos, melodia, voz, groove, letra, melhor música do mundo, escrita e cantada por Sorongo.

Veneno Buenos Aires

Mês passado eu e o grande parceiro Peba Tropikal encaramos pouco mais de uma semana de Buenos Aires, passeios pela ciudad autónoma, almoços argentinos, visitas a museus modernistas, caças de discos, porros, perros, plazas, terrazas, calles, boliches e, claro, miniturnê Veneno em dupla pelas baladas Fiesta del Funk Naciente no Niceto Club e Afro Mama Jams no Makena, noches especiales ao lado dos irmãos portenhos Lenni P Funk e Hermano del Espacio, abençoados nós pelo Buda Brown. Pequeno audiorretrato de tanta buena onda no play abaixo, gravação da madrugada de 16 de novembro de 2012, mais de duas horas de colagem em tempo real de preciosos erros ao vivo, acertos na moral, surpresas, raps improvisados, microfonia, funk brasileiro, souls favoritos, grooves clássicos.