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Levante a Cabeça

Depois de anos prometendo e adiando, finalmente no ar mix do irmão Veneno Peba Tropikal. Capa e play abaixo, Levante a Cabeça, funk 70, black Brasil, hits do aquecimento e da alta madrugada, seleção fina comemorando os 5 anos de coletivo.

01 Rio de Felicidade – Rosa Maria
02 Quero Voltar pra Bahia – Paulo Diniz
03 Mané Beleza – Toni Tornado
04 Mané João – Teo
05 Mulher Absoluta – Copa 7
07 Crioula – Wilson Simonal
08 Que Legal – Tim Maia
09 Everyone’s a Winner – União Black
10 Mêlo do Hulk – Gerson Combo
11 Chamego de Iná – Antonio Carlos & Jocafi
12 Cinco Anos – Miguel de Deus

Mixado por Peba Tropikal, agosto de 2012
http://venenosoundsystem.com
100% vinil

é legal a cultura viva racional

Não sei quanto ao livro, mas ouça o disco que é coisa limpa, é coisa pura, é legal e é bacana: com seis faixas e meia hora (não muito diferente dos dois primeiros volumes), o lendário e agora real terceiro volume da série Tim Maia Racional foi finalizado e lançado como CD bônus de um box de Tim, em breve em edição individual nas lojas. Hoje na Folha Ilustrada, crítica minha do recém-nascido clássico álbum, logo abaixo.

Não é apenas o fato de que Tim Maia estava no seu auge artístico que faz de seus discos “Racional” especiais em sua discografia. A ideia de que o cantor famosamente mais longe possível de estabilidades houvesse decidido se limpar, se endireitar e caretear graças a uma aparentemente seita, decididamente maluca, pregando a origem e volta do ser humano ao espaço, e a intensidade com que interpreta isso tornam pérolas os dois volumes, lançados de forma independente em 1975.

Quando há alguns anos surgiram as palavras mágicas gravações inéditas, a gigante expectativa chegou ao ponto de quatro faixas vazarem na internet em versões cruas, demos que Tim havia deixado, gravadas no estúdio Somil em 1976. Agora, em distribuição exclusiva para compradores de box de Tim vendido em bancas e futuro lançamento em lojas pela Sony Music, o material se realiza em novo mítico volume da série, Racional 3.

O produtor Kassin, ao lado do guitarrista original de Tim na época, Paulinho Guitarra, finalizou as seis faixas (duas a mais do que sabia pelas demos) com o arranjador e tecladista Lincoln Olivetti, acrescentando clavinetes, sintetizadores, órgão, cordas, sopros, solos de saxofone e guitarra fuzz a canções como “Lendo o livro” e “I am rational”. A produção detalhista de Kassin recupera os timbres originais e a participação de músicos próximos como Paulo e Olivetti garante a dedicação musical e pessoal, criando um disco novo, inédito e ponto alto da carreira de Tim – lançado 13 anos depois de sua partida.

Apesar de todos os envolvidos terem lamentado o vazamento na rede das demos originais, só podemos agradecer por ter acontecido – hoje é um prazer incalculável poder ouvi-las, tão deliciosas em sua crueza quanto são ótimas as novas versões já totalmente vestidas. Da sugestões geniais às realizações plenas, funk dos melhores do mundo, o groove perfeito de baixo e bateria, guitarra com wah-wah, ataque de sopros, vozeirão visceral: o som clássico de Tim Maia, black music com naturalidade brasileira, soul universal.

pop-eye

Pra não dizer que não existem notícias quentes, apanhado da temporada de manchetes, notícias, declarações, especulações, próximas, radar.

§ Depois do papo de Doce, novo sopro de nome do disco novo de Gal com Caetano: Segunda.

§ Falando na Gal, MauVal e Matias foram dois que não curtiram a capa da última Rolling Stone.

§ Falando no Caetano, ele vai cantar “Não existe amor em SP” no VMB com Criolo & Ganja.

§ Enquanto isso, David Byrne também curtiu o disco da Tulipa.

§ Marcus Preto foi ouvir umas novas do disco da Mallu.

§ O disco do Emicida gravado em NY sai logo mais.

§ Céu, em entrevista em turnê em Londres, disse que deve lançar algo novo no ano que vem.

§ Vazou o Tim Maia Racional 3 (lógico).

§ Teresa Cristina planeja disco novo só com canções de Candeia.

§ Vídeo da Dona Inah cantando no último disco de Romulo Fróes.

§ “Kamasutra“, parceria com Arnaldo Antunes, primeira música de Sexo, disco novo do Erasmo Carlos, 70 anos.

§ Nos próximos meses, o Studio SP abre filial no Rio de Janeiro e reabre seu espaço na Vila Madalena.

§ Eliana, grávida de João Marcelo Bôscoli: “Carrego um pedacinho da Elis”.

As faixas do Tim Maia Racional Volume 3

Suspense desde o começo do ano, quando descobriu-se que a SonyBMG chamou Kassin (e este a Paulinho Guitarra etc) para completar as gravações nunca lançadas do Tim Maia Racional Volume 3 e subsequentemente lançar o álbum como CD-bônus de uma coleção de Tim vendida nas bancas pela editora Abril, essa semana a liberaram o disco. Das seis faixas, “O supermundo racional” é absolutamente inédita, “Que legal” é nova versão de composição do Racional 2 e as outras quatro são as que haviam vazado há alguns anos (agora com outros nomes).

01 É Preciso Ler e Reler [antes “Escrituração racional”]
02 I Am Rational [antes “You gotta be rational”]
03 Lendo o Livro [antes “Universo em desencanto disco”]
04 O Supermundo Racional
05 Nação Cósmica [antes “Brasil Racional”]
06 Que Legal

TIM MAIA e a invenção do soul brasileiro

Capa da Ilustrada hoje, texto meu sobre Tim Maia, em especial seus primeiros passos, a propósito de um recém-lançado box com antigos álbuns em versão CD.


Exatamente quarenta anos depois do lançamento de seu primeiro álbum, Tim Maia continua entre os nomes mais procurados e vendidos das lojas de música. Ao menos nos sebos de vinis, porque os CDs andavam há mais de uma década fora de catálogo no Brasil.

Para quem ainda compra CDs, muito bem-vinda portanto a caixa dedicada ao catálogo de Tim Maia dentro da gravadora Universal, com oito discos lançados pelo cantor e compositor entre 1970 e 1984, mais um DVD de show realizado em 1989. Especialmente indispensáveis são os quatro primeiros discos da caixa, também primeiros álbuns da carreira de Tim Maia, também primeiros discos da fundação de algo como uma soul music brasileira.

ALMA SOUL
Quando Tim Maia surgiu no panorama, em 1970, não havia modelo, parâmetro ou rival para o que fazia. Seus primeiros discos, além da irresistibilidade de suas composições e do poderio de sua voz, traziam saltos de anos luz em termos de balanço e musicalidade, timbres de bateria, grooves de baixo, uso moderno de órgão, sopros, vibrafone, flauta, falsetes, com doçura brasileira e alma soul – com o charme do pleonasmo bilíngue.

Havia o comentário pontual de nomes como a Banda Abolição de Dom Salvador e os Diagonais de Cassiano. Mas até o surgimento de uma cena mais disseminada, por volta de 1976, com as bandas Black Rio e União Black, e mesmo depois, toda a black music brasileira era mais sincera e amplamente influenciada por Tim Maia do que qualquer artista estrangeiro. E até hoje, 2010 virando 2011, a concepção musical e personalidade apresentadas por Tim Maia em seus discos iniciais soam completamente atuais em época de recuperação da soul music em escala mundial e de redescoberta da riqueza da vertente brasileira do estilo entre cantores, músicos, DJs, colecionadores, pesquisadores, brasileiros, gringos e interessados em geral.

NOVA YORK E JOVEM GUARDA
Garoto da Zona Norte do Rio, amigo da Tijuca de Roberto, Erasmo, Jorge Ben, Tião virou Tim quando resolveu ir para os Estados Unidos: de 1959 a 1964, 16 a 21 anos, morou em Nova York e teve contato em primeira mão com a cena estadunidense de música negra, que explodia com, por exemplo, os primeiros singles da famosa gravadora Motown. Chegou a formar o quarteto vocal The Ideals e ensaiar os primeiros passos semi-profissionais, mas o sonho americano não durou: acabou preso e expulso do país por posse de substância ilegai e roubo de carro.

De volta ao Brasil, no reencontro com a turma e com novas amizades como Nelson Motta, estourou em 1969 com “Não vou ficar” na voz de Roberto Carlos e “These are the songs”, em dueto com Elis Regina. No ano seguinte, quando gravou seu primeiro elepê, ficou meses em primeiro lugar nas paradas de vendas, chegando a desbancar seu colega de infância, agora popstar, Roberto.

INGLÊS
É quando começa a história contada pelos discos no box: com seu talento sobrenatural, voz de trovão, personalidade maior que a vida e poderio de carisma, navegou na fama nacional e foi aproveitando para lançar discos cada um melhor que o anterior, todos nota dez, todos levando a ideia de um funk brasileiro um passo à frente. E todos com momentos em inglês, como uma espécie de cumprimento às influências americanas.

As faixas em inglês, aliás, chegaram a ser compiladas em um álbum planejado pela gravadora norte-americana Luaka Bop, a mesma que ajudou na fama internacional de Mutantes e Tom Zé: “Nobody Can Live Forever: The Existential Soul of Tim Maia”. Até hoje as negociações não terminaram – o espólio de Tim é regido com complexidade, entre centenas de processos que ainda existem contra seus excessos e excentricidades de quando em vida.

OS DISCOS DO BOX

TIM MAIA 1970
Em inglês: “Jurema”
Os hits: “Primavera”, “Azul da cor do mar”,
Preste atenção: “Padre Cícero”, “Risos”

O primeiro disco, sucesso nacional e as primeiras sementes plantadas de funk brasileiro, baião-soul, baladas e grooves. Com Cassiano na guitarra.

TIM MAIA 1971
Em inglês: “I don’t know what to do with myself”, “Broken heart”
Os hits: “Não quero dinheiro”, “Não vou ficar”, “Você”
Preste atenção: “I don’t care”

Continuação e evolução do primeiro disco, ainda com versões autorais de “Você” (antes gravada por Eduardo Araújo) e “I don’t care” (antes gravada em português por Erasmo). Com Hyldon e Paulinho nas guitarras.

TIM MAIA 1972
Em inglês: “Where is my other half”, “My little girl”
Os hits: “Canário do reino”, “O que me importa”
Preste atenção: “O que você quer apostar”, “Sofre”

Disco sofrido, sentimental e brilhante, com várias em inglês e novos hits pra coleção. Com Paulinho e o prório Tim nas guitarras e Carlos Dafé no órgão.

TIM MAIA 1973
Em inglês: “Over again”, “New love”, “Do your thing, behave yourself”
Os hits: “Réu confesso”, “Gostava tanto de você”
Preste atenção: “O balanço”

O último disco de Tim antes de mergulhar na Cultura Racional e abandonar as grandes gravadoras, com sua banda chegando no ápice, misturando soul e samba. Paulinho Guitarra liderando a banda.

TIM MAIA 1976
Em inglês: “Nobody can live forever”, “Márcio Leonardo e Telmo”
O hit: “Rodésia”
Preste atenção: “Sentimental”

Depois do intenso mergulho nas idéias do Universo em Desencanto, Tim voltou com seu novo funk pesado aos temas de amor e vida. Gravou o disco independente, mas lançou pela Polydor (hoje Universal). Arranjos de Arthur Verocai.

TIM MAIA 1980
O hit: “Você e eu, eu e você”
Preste atenção: “Meu samba”

Depois de passagens pela Som Livre e EMI, Tim volta à Polydor. Agora com a sonoridade de groove oitentista típica da dupla Robson Jorge e Lincoln Olivetti.

O DESCOBRIDOR DOS SETE MARES 1983
O hit: “Me dê motivo”
Preste atenção: “Terapêutica do grito”

Novo megasucesso nacional com a ajuda de Sullivan e Massadas, novo ponto alto pra carreira de Tim.

SUFOCANTE 1984
O hit: “Bons momentos”
Preste atenção: “Ga-guejando”

Com sua fórmula azeitada, alternando entre baladas românticas e grooves, ao lado da banda Vitória Régia, Tim interpreta Dafé, Cassiano, instrumentais.

TIM MAIA IN CONCERT DVD 1989
Os hits: todas
Preste atenção: “Sossego”

Filmado no Hotel Nacional do Rio de Janeiro, Tim canta seus hits com a banda Vitória Régia e grande orquestra.

VitrolaMixtapes: Blubell

Você já viu a Blubell cantando? Tenho certeza que levou um susto quando viu aquela figura pequena e discreta com uma voz tão forte e segura. Mas o brilhantismo interpretativo não é a única coisa impressionante em Blubell: as músicas que escolhe cantar, as que escreve, os músicos com quem toca e as versões que criam são peças-chave na construção do seu universo. Não à tôa, talvez seu trabalho mais interessante seja com o quarteto À Deriva, de jazz de gente grande. O lado mais roqueiro também vai longe com suas músicas em série da MTV e banda com Pedro Baby. Toda essa mistura consciente de referências de bom gosto deixou curioso: quais as influêncas e paixões da Blubell? Pois aqui está, mixtape especial para nós, dez faixas escolhidas por ela, juntando de Anita O’Day e Caetano Veloso a’Os Mulheres Negras e Raveonettes, de Elvis e Elis a Marvelettes e Tim Maia. Aquele máximo de sofisticação jazzística, mas com pegada, groove, senso de humor e anarquia roqueira. Tipo ela.

Ficou assim:

01 Anita O’Day – Let’s Face the Music and Dance
02 Os Mulheres Negras – Feridas
03 The Marvelettes – Danger Heartbreak Dead Ahead
04 Madonna & Prince – Love Song
05 Ablo te Pablo Mi – Triste com astral
06 Caetano Veloso – A little more blue
07 Elvis Presley – Kiss Me Quick
08 The Raveonettes – Love in a Trashcan
09 Tim Maia – Sofre
10 Elis Regina – Cabaré

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